_Se eu não vou mais ver, quem é que eu vou ser?_
Gilmara Roberto
Fotos: Mário Souza
Apresentando-se em monólogo, o ator Eduardo Moscovis interpretou na última terça-feira, 12 de abril, um personagem que perdeu a visão, diante da plateia do Centro Cultural da UFG. A apresentação de “O Livro” foi a primeira atividade do Banquete de livros, evento que procurar celebrar o livro de papel, em sua forma e conteúdo, e proporcionar um diálogo artístico sobre o amor ao livro.
O personagem interpretado por Eduardo Moscovis vive diante do público a experiência de perder a visão. Ele sofre de uma doença geneticamente degenerativa da córnea. Trancado em um quarto até que se torna cego, o personagem recebe de seu pai um livro envolto em um papel azul-celeste, que contém as últimas palavras que ele poderá ler. Inicialmente, o personagem, que demonstra pressa em ler e assim descobrir a narrativa, vai aprendendo a textura das palavras: alguns substantivos o encantam e ele usa do papel (que compõe o cenário) para moldar algo como um bumerangue ou um papagaio. Ele vai, então, tateando as palavras e construindo um novo modo de percepção do mundo.
A peça, dirigida por Christiane Jatahy, é composta e interpretada segundo um perspectiva hipertextual: o fim da visão representa o início da peça e o seu fim representa o começo da fase de cegueira; Eduardo Moscovis ora interpreta o personagem que perderá a visão, ora fala como o ator que recebe esse papel para interpretar; o texto é, ora do ator, ora do cego. Sobre a interação com o público, a diretora afirmou que o monólogo é o melhor exercício de troca com a plateia: “O teatro precisa ser de fato uma janela para a vida. O objetivo é tornar vivo; fazer renovar o olhar sobre a cena”.
Eduardo Moscovis declarou que “a forma como Christiane trabalha a peça me aproxima da plateia e de mim. Ela quebra o lugar do monólogo solo”. O ator explicou ainda a relação que o autor do texto, Newton Moreno, estabelece entre o livro e a cegueira: ele sofre de glaucoma e nunca entendeu porque, logo ele que é tão apaixonado pela literatura e pelos livros, pode sofrer de um distúrbio que provoca a perda gradual da visão. Por isso, a peça busca proporcionar uma reflexão sobre as fases de transição, nas quais o ser humano é obrigado a aceitar uma nova condição de vida, e não necessariamente sobre a aceitação da cegueira.
A diretora do Centro Editorial e Gráfico da UFG, Maria das Graças Monteiro Castro, lembrou a importância de um evento como o Banquete de livros para desmistificar o livro. “O livro ainda é muito sacralizado e respeitado. Ele ainda tem um aura muito forte. A nossa ideia é promover o deleite, a celebração em torno do livro”, informou a diretora. As atividades se estendem até o dia 15 de abril, quando estão previstos debates com escritores e artistas, como Roger Mello, Antonio Cicero e Zeca Baleiro, que irá realizar show para o encerramento do evento no Teatro Rio Vermelho.
Quelle: Ascom/UFG
Kategorien: Banquete de livros
