Seminário Conexões de Saberes discute o científico e o popular

Em 09/04/08 03:28.
Programação debate manifestações da cultura negra
 
A apresentação da peça teatral “Julgamento do Mérito” abriu, nesta quarta-feira, dia 9, o seminário local do Programa Conexões de Saberes. A peça foi encenada pelos bolsistas do programa Bruna Priscila Santos, estudante de enfermagem, Daniele Gonçalves e Silas Cezar dos Santos, estudantes de Letras, e Renato Henrique da Silva, estudante de História, baseada em texto de Fran Rodrigues, estudante de Jornalismo.
Com os personagens “Mérito”, “Vestibular”, “Lei” e “Eqüidade”, a peça questionou o acesso ao ensino superior, principalmente a seleção feita por meio do vestibular. De acordo com a apresentação, o vestibular existe no Brasil desde 1911, portanto, é um sistema antigo e atrasado. Segundo as falas da personagem Eqüidade, a fórmula do vestibular avalia no máximo a capacidade de memorização dos alunos, e dá certo somente para quem estuda em escolas caras, o que leva a uma elitização da universidade. Na peça, o julgamento foi adiado. Porém, a mensagem final explicou: “A decisão da lei pode demorar, mas o povo deve refletir sobre o mérito e a eqüidade”.
 
Capoeira e Hip Hop: Manifestações da Cultura Negra
         Na seqüência da programação, mesa-redonda com mestre Guaraná e Claudinho falou sobre Capoeira e Hip Hop: dois tipos de manifestação da cultura negra. Antes de sua exposição, mestre Guaraná fez um toque de berimbau, que segundo ele, é um instrumento sagrado. Professor de capoeira do Grupo Kalunga, Guaraná explicou que os africanos desenvolveram formas de sobreviver e manter suas tradições – uma delas foi a capoeira.
         “Capoeira não é só aprender técnica de movimento”, afirmou Mestre Guaraná. Ele criticou a visão fragmentada do que ele considera arte, mas que é vista como esporte e/ou dança: “Isso minimiza a capoeira”. Para o mestre, a capoeira também é vítima do imediatismo das pessoas, que querem resultados rápidos. A ginga, outro elemento da capoeira, é para o mestre um modo de ser ou estar no mundo. Desse modo, ela atua também na construção da própria identidade de seus adeptos.
         Sobre as articulações entre o popular e o científico, tema do seminário, Mestre Guaraná disse que não se pode trazer a academia para dentro dessas questões implícitas à capoeira: “Livro só mais tarde”, afirmou. Porém, ele reconheceu que a academia e as pessoas estão começando a respeitar mais essa atividade, o que é importante para eles e para os livros.  
         O movimento Hip hop procura difundir os saberes dessa cultura muitas vezes discriminada. Realiza-se um trabalho sério para corrigir distorções e preconceitos no modo como a sociedade enxerga o Hip Hop e seus membros. Para Claudinho, representante do movimento e membro da mesa de discussão do Conexões de Saberes, a leitura desencadeia o gosto pelo Hip Hop. Na literatura negra, jovens com conflitos sociais encontram exemplos de auto-estima e superação.
Mas Claudinho afirma também que muitas vezes a Universidade parece distante demais dessas realidades e que é necessário que projetos como o Conexão de Saberes estejam mais próximos das comunidades. A falta de consciência de classe dentro do meio acadêmico seria um entrave para o intercâmbio de saberes entre comunidade e estudantes.
 

Fonte: Assessoria de Comunicação