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Dia da Não Violência Contra as Mulheres

In 25/11/04 14:34 .
25 de novembro _ o Dia Internacional

 A cada quatro minutos uma mulher é agredida por alguém em seu próprio ambiente familiar ou fora dele. Trata-se de um problema cotidiano, fruto da construção das relações de poder entre mulheres e homens, na sociedade e na vida doméstica, baseadas na cultura patriarcal (subordinação, dominação e e subvalorização do sexo feminino), que acarreta uma vulnerabilidade cultural e atinge todas as mulheres independente de idade, raça/etnia, situação financeira ou credo religioso.

Considerada a mais cruel manifestação de discriminação, entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta baseada no gênero,que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado. Desta forma, a agressão apresenta diversas manifestações, sendo a mais grave a Violência Doméstica, tanto por suas dimensões como pelas pessoas envolvidas. Ela é praticamente dentro da família, na unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal em que o agressor conviva ou tenha convivido no mesmo domicílio e que compreende, entre outros, maus-tratos, agressões físicas e psíquicas, ameaças e violência sexual.

Invisivel e silenciado, inúmeros casos não denunciados, e quando denunciados, não punidos,a violência doméstica resulta em vários danos a saúde da mulher e vem sendo relacionada com o abuso de drogas e álcool, distúrbios gastrointestinais, inflamações ginecológicas, dores de cabeça, asma, ansiedade, depressão e outros distúrbios psíquicos, como tentativa de suicídio.

A familia ainda é considerada um território fora do alcance da lei. O convívio social torna-se um obstáculo para a denúncia e cria bases para a impunidade, pois existe cumplicidade ou indiferença da sociedade com essa forma de violência. Além disso, interfere na qualidade de vida e no desenvolvimento da sociedade em sua diversidade. Torna-se urgente um amplo processo de mobilização social contra a violência nas famílias e todas as manifestações de violência contra a mulher.


 Violência Contra a Mulher e Saúde no Brasil - Estudo Multipaíses da OMS sobre Saúde da Mulher e Violência Doméstica


Realização: Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em parceria com duas organizações da sociedade civil: Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, de São Paulo, e SOS Corpo - Gênero e Cidadania, de Pernambuco, além de pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP e do Núcleo de Saúde Pública da Universidade de Pernambuco.

Realizada entre 2000 e início de 2001, a pesquisa apresenta dados sobre a ocorrência da violência, o impacto na saúde das mulheres e crianças, lesões decorrentes da violência, violência durante a gravidez, busca de ajuda, ajuda institucional, saída de casa e razões para ficar ao lado do agressor.

A pesquisa foi realizada simultaneamente em 8 países, sob a coordenação da OMS (Organização Mundial da Saúde). Em todos esses estudos foram pesquisadas uma grande cidade e uma região de características rurais.

· 27% das mulheres na cidade de São Paulo e 34% na Zona da Mata pernambucana relataram algum episódio de violência física cometida por parceiro ou ex-parceiro,

· 10% das mulheres em São Paulo e 14% na Zona da Mata disseram já haver sido:

· forçadas fisicamente a ter relações sexuais quando não queriam, ou

· forçadas a práticas sexuais por medo do que o parceiro pudesse fazer, ou

· forçadas a uma prática sexual degradante ou humilhante.

· A violência física e/ou sexual cometida alguma vez na vida pelo parceiro foi relatada por 29% das mulheres na cidade de São Paulo e 37% na Zona da Mata em Pernambuco.

Impacto da violência na saúde das mulheres e crianças

· A tentativa de suicídio é mais freqüente entre mulheres que sofrem violência. Tanto em São Paulo como na Zona da Mata as mulheres que sofreram violência relataram de 2 a 3 vezes mais a intenção e a tentativa de suicídio do que aquelas que não sofreram.

· As mulheres que relataram violência declararam com maior freqüência o uso diário de álcool e problemas relacionados à bebida nos últimos 12 meses.

· Os filhos de 5 a 12 anos de mulheres que referiram violência apresentam mais problemas, como pesadelos, chupar dedo, urinar na cama, ser tímido ou agressivo.

· Na cidade de São Paulo, as mães que declararam violência relataram maior repetência escolar de seus filhos de 5 a 12 anos; na Zona da Mata, maior abandono da escola.

Lesões decorrentes da violência

· 11% em São Paulo e 13% na Zona da Mata relataram haver sofrido lesões, tais como cortes, perfurações, mordidas, contusões, esfolamentos, fraturas, dentes quebrados, entre outras.

· Dentre as mulheres que relataram lesões, 36% ficaram tão machucadas que necessitaram assistência médica. Destas mulheres, 22% em São Paulo disseram haver passado uma noite no hospital devido ao trauma físico e 20% na Zona da Mata.

Violência durante a gravidez

· 8% na cidade de São Paulo e 11% na Zona da Mata relataram violência física durante a gravidez. Dentre estas, 29% das mulheres em São Paulo e 38% na Zona da Mata contam que receberam "socos ou pontapés na barriga durante a gravidez".

· Em São Paulo, entre as mulheres que relataram violência física e sexual, 28% fizeram um aborto. Entre as que não relataram violência, 9% recorreram à prática do aborto. Na Zona da Mata, entre as mulheres que relataram violência física e sexual, 8% realizaram ao menos um aborto, enquanto entre as que não relataram violência o índice é de 3%. Essas diferenças foram estatisticamente significativas.

Busca de ajuda

· 22% das mulheres em São Paulo e 24% na Zona da Mata nunca haviam relatado a violência a ninguém; para estas, a pesquisa foi a primeira oportunidade para o relato.

Tiveram que sair de casa

· Quatro entre dez das mulheres que relataram violência na cidade de São Paulo (41%) tiveram que sair de casa pelo menos uma vez por causa das agressões, enquanto na Zona da Mata mais de cinco em cada dez (52%) tiveram que sair de casa pela mesma razão.

Razões para ficar

· Quando perguntada sobre os motivos para continuar na relação apesar da violência, a resposta mais freqüente foi que _perdoou o parceiro_ (31% na Zona da Mata e 32% na cidade de São Paulo), seguida de _não queria deixar as crianças_ (29% na Zona da Mata e 25% em São Paulo) e, em terceiro lugar, o _amor pelo parceiro_ (23% em São Paulo e 24% na Zona da Mata).

Violência cometida por outros agressores

· A violência física sofrida após os 15 anos e que foi cometida por outro agressor que não o parceiro foi referida por 21% das mulheres em São Paulo e 13% na Zona da Mata.

· Relataram violência sexual após os 15 anos 7% das mulheres em São Paulo e 5% na Zona da Mata.

· A violência sexual antes dos 15 anos foi relatada por 12% das mulheres em São Paulo e 9% na Zona da Mata. Este dado foi colhido anonimamente, através do preenchimento de uma cédula

Informações sobre a pesquisa podem ser obtidas com as integrantes do Grupo de pesquisa na linha Violência e Gênero das práticas de saúde Departamento de Medicina Preventiva / Faculdade de Medicina da USP:
Profa. Lilia Blima Schraiber, Profa. Ana Flavia P.L. D'Oliveira ou Profa. Marica Thereza C. Falcão  - (11) 3066 7085 / 3066 7094 
E-mails:  
liliabli@usp.br /  aflolive@usp.br /  marthet@usp.br
www.usp.br/medicina/departamento/mpr 

Fonte: Centro de M_dia Independente