UFG concede título de emérito a professores do IME

Texto: Luiz Felipe Fernandes
Foto: Evelyn Parreira

Outorga do título de professor emérito foi realizada em sessão solene da Assembleia Extraordinária da UFG

A história do Instituto de Matemática e Estatística (IME) e da própria Universidade Federal de Goiás (UFG) se confunde com a trajetória de seus mais novos professores eméritos: Gisele de Araújo Prateado Gusmão e Mauro Urbano Rogério. A outorga do título foi realizada em sessão solene da Assembleia Universitária na última terça-feira (14/11), no auditório da Biblioteca Central, no Campus Samambaia, com participação de integrantes da administração central da UFG, da comunidade acadêmica – sobretudo professores, técnicos-administrativos e estudantes do IME –, e de amigos e familiares dos homenageados.

Foi uma solenidade marcada por reencontros e lembranças. Responsável pela saudação à professora Gisele, o professor do IME Maurício Donizetti Pieterzack destacou a trajetória de excelência da homenageada, tanto na docência quanto na gestão. "Gisele sempre foi muito requisitada para participar de atividades na Universidade. Sempre foi uma excelente pessoa e uma excelente gestora. Teve muita liderança e sempre conheceu as coisas da Universidade, tanto acadêmcias quanto administrativas. Inspirou muita gente, sendo eu um deles", afirmou Maurício, atualmente pró-reitor adjunto de Gestão de Pessoas (Propessoas) e que foi vice-coordenador do IME junto a Gisele em duas gestões.

Mineira de Araguari, Gisele exerceu suas funções na UFG entre 1981 e 2018. Em sua fala no evento, a professora ressaltou sua preocupação, desde o início da carreira, em contribuir para a superação das dificuldades dos estudantes com a matemática. Segundo ela, sua consciência política – e, consequentemente, sua luta por uma universidade pública e de qualidade – ganhou força com a greve de 1980, em plena ditadura militar no Brasil, quando o então Instituto de Matemática e Física (IMF) foi uma das primeiras unidades a paralisar suas atividades.

Reitora da UFG Angelita Pereira de Lima outorga título de professora emérita a Gisele Prateado Gusmão

"Participei de grandes mudanças no caminho da UFG para se tornar a grande universidade que é hoje", comemorou a agora professora emérita. Nessa caminhada estiveram a interiorização do ensino superior, posteriormente consolidada com o que hoje são as Universidades Federais de Jataí (UFJ) e de Catalão (UFCat); a implantação do curso noturno de Matemática, mesmo sem a contratação de novos professores; o desmembramento do IMF nos atuais IME e Instituto de Física (IF); e a divulgação e realização das Olimpíadas de Matemática em Goiás.

De forma ainda mais ampla, Gisele participou das discussões sobre as mudanças no vestibular, a adequação à lei de cotas, a implanação do UFGInclui e a adesão ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu). "Hoje podemos afirmar que a UFG está mais parecida com a sociedade goiana do que a 20 anos atrás", destacou a professora, que encerrou sua carreira na UFG à frente a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Um dos momentos mais vibrantes, segundo ela, foi estar na gestão durante a implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). "Uma outra universidade surgiu com o Reuni. Com certeza foi a maior expansão da UFG desde sua criação".

Gisele lembrou dos "anos de treva" que se seguiram ao golpe da presidenta Dilma Rousseff e as recentes tentativas de desacreditar a ciência e as universidades federais, mas fez questão de enfatizar a responsabilidade e o compromisso de toda a Universidade para fazer frente a esses ataques.

Pró-reitor adjunto da Propessoas, Maurício Donizetti Pieterzack fez a saudação à nova professora emérita

Pioneirismo
Muito do pioneirismo do IME também se deve ao agora professor emérito Mauro Urbano. Em sua saudação ao homenageado, o professor Geci José Pereira da Silva lembrou que Mauro foi aluno da primeira turma de Matemática da UFG, em 1967, e da primeira turma de mestrado. "Não tem como falar da trajetória do professor Mauro sem falar da luta pela implantação de uma universidade pública, gratuita e de qualidade", afirmou Geci, que atualmente é presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg).

Nas palavras de Geci, o novo professor emérito da UFG integra uma geração que teve a capacidade de moldar a matemática da Universidade para se tornar um centro completo, oferecendo hoje todos os níveis de ensino e sendo referência nacional e internacional. Entre suas características, foi lembrado seu caráter acolhedor e humanitário, sua excelente didática e seu rigor acadêmico-científico, sempre procurando meios para diminuir a evasão e ampliar o acesso ao ensino superior por meio da interiorização.

Título de professor emérito é outorgado pela reitora da UFG a Mauro Urbano Rogério em sessão solene

Mauro é goiano de Corumbaíba e esteve nos quadros da UFG entre 1973 e 1997. Com a experiência de quem marcou a história do ensino superior em Goiás, sua fala foi uma inspiração aos presentes. "A vida de um professor é sempre cheia de dureza, e na ausência de sonhos ela pode se tornar insuportável. Essa mistura – sonho e dureza – nos ajuda a vencer as dificuldades e encontrar prazer no que se faz. Com sonhos e dificuldades construí minha história na UFG", disse.

O professor fez questão de enfatizar que é produto do ensino público, tendo passado por grupo escolar, colégio estadual e universidade federal. Ainda que o sonho de ser professor do ensino superior fosse distante, os rumos da vida o levaram à docência universitária, em uma trajetória que iria muito além da sala de aula.

Durante seu discurso, Mauro destacou duas lembranças em sua trajetória na UFG. A primeira delas foi o compromisso do então IMF com a melhoria da formação acadêmica de seu quadro docente. Os professores saíam para mestrado e doutorado recebendo salários integrais. "Esse era o gene da instituição", afirmou. Assim, a unidade se consolidou como um centro de referência no ensino e na pesquisa em matemática no Brasil e no exterior.

A segunda lembrança foi a interiorização do ensino superior. "A ideia de trabalhar fora da instituição era anterior ao processo de interiorização", explicou o homenageado, lembrando de iniciativas dos docentes de ir às cidades do interior para trabalhar com professores de escolas públicas para dar treinamentos, compartilhar experiências e divulgar o curso de Matemática. Na esteira desse processo, Mauro foi o primeiro diretor do Campus Avançado de Jataí, em 1981, hoje UFJ. Em sua contribuição como gestor, também ocupou os cargos de pró-reitor de Extensão e pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional.

O professor concluiu sua fala citando um verso da canção "Teu sonho não acabou", de Taiguara, que diz "só fecha o seu livo quem já aprendeu", ao qual emendou: "eu ainda não fechei o meu. Quem há de ter fechado o seu?".

Geci José Pereira da Silva destacou atuação do professor Mauro Urbano na interiorização do ensino superior

Formação
O atual diretor do IME, professor João Carlos da Rocha Medrado, reforçou a contribuição dos dois homenageados na consolidação da unidade acadêmica como um dos mais importantes centros de ensino e pesquisa em matemática do Brasil. O curso de licenciatura em Matemática completará 60 anos em 2024 e a unidade já formou mais de 500 mestres e 70 doutores, além de atender 60 cursos em 24 unidades acadêmicas da UFG. "São duas pessoas muito especiais na construção de tudo o que temos hoje no IME. Pessoas valorosas, humanas e que com muita empatia souberam tão bem conduzir esta instituição", ressaltou.

Atual diretor do IME, João Carlos Medrado destacou a excelência do IME em todos os níveis do ensino superior

Encerrando as homenagens, a reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, falou do privilégio que é enxergar a Universidade a partir da história e da trajetória dos dois professores. Ela lembrou que o título emérito é mais alta honraria que os pares podem dedicar àqueles que fazem e fizeram a diferença na Universidade. "Os serviços prestados são muitos, de muita qualidade e têm efeitos importantes na sociedade. O título emérito tem um impacto simbólico mas ele é também um marco na história da própria Universidade".

Angelita agradeceu aos novos professores eméritos por terem pavimentado o caminho para outros docentes e gestores. "Temos a tarefa de nos espelhar em vocês. Hoje a UFG é muito maior e melhor do que já foi. Nossa tarefa é cuidar do legado dos nossos homenageados", enfatizou. Para a reitora, a homenagem também traz esperança para os dias atuais, "pois a partir de boas referências com certeza também daremos o nosso melhor".

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Assista aqui à transmissão.

Reitora da UFG agradeceu as contribuições dos professores para o crescimento e fortalecimento da Universidade