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Basilio Baseia e Nelson Amaral recebem título de Professor Emérito

Em 10/11/23 11:54.

Honrarias são concedidas pelo Instituto de Física e pela Faculdade de Educação da UFG

Texto: Kharen Stecca

Fotos: Evelyn Parreira

O filho do sapateiro e o homem que calcula: duas trajetórias diferentes que se cruzaram no Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás e que receberam no dia 9 de novembro, o título de Professor Emérito da UFG: Basílio Baseia é o filho do sapateiro, como ele mesmo sempre lembra, característica que nomeia um livro que ele publicou sobre sua vida e trajetória para “ir  além das chinelas”, como lembrou o professor Orlando Amaral ao ler alguns trechos. O homem que calcula é o professor Nelson Cardoso Amaral, hoje professor aposentado do Instituto de Física, que começou nessa área e depois foi se deslocando para a área da Educação, tendo importante trajetória em diversas frentes como, por exemplo, o entendimento dos processos nacionais sobre financiamentos da educação. 

O evento foi realizado no Anfiteatro do Instituto de Física durante a Semana da Física. O professor Nelson Cardoso Amaral foi acompanhado até o palco pelo ex-reitor Edward Madureira. O professor Basílio Baseia acompanhou a cerimônia remotamente e foi representado pelo irmão e professor Dionísio Baseia, que foi conduzido ao palco pelo ex-reitor  Orlando Amaral. Ele não pode estar presente devido a problemas de saúde. Também participaram da mesa diretiva a Reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, o Diretor do Instituto de Física da UFG, Lauro Maia, e a diretora da Faculdade de Educação da UFG, Lueli Nogueira, além dos dois ex-reitores da UFG. 

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Professor Edward Madureira durante a homenagem ao professor Nelson Amaral

 

O ex-reitor da UFG, Edward Madureira foi o responsável pela homenagem ao professor. Ele lembrou que o professor Nelson recebeu o título por duas unidades: a Faculdade de Educação e o Instituto de Física. A Universidade, ele destaca, é um local em que podemos viver com pessoas elevadas e buscar uma sociedade mais justa. Há pessoas que marcam eternamente nossa existência. Sou privilegiado por trabalhar numa universidade pública e por estar ao lado de pessoas tão especiais. Entre as qualidades do professor enumerou as inteligências múltiplas, a humildade, o respeito, lealdade e capacidade de escuta. “Para ele não existe problema sem solução”, ressaltou. Também destacou a disposição para se dedicar a questões complexas e uma seriedade incomum aos desafios que se apresentam, além de uma habilidade com que transita nas áreas de conhecimento. 

Ele lembra que o professor ousou se enveredar pelo campo da educação bem mais tarde e continua se destacando, sendo hoje um dos mais respeitados educadores do Brasil. Destacou algumas de suas participações importantes para a educação. Nos anos de 1980, participou dos primeiros movimentos de greve, contribuindo para a redemocratização do país. Contribuiu com o modelo de alocação de vagas de docentes das universidades que antes não eram repostas. “Muitas universidades se inspiram nesse modelo para solucionar problemas de distribuição de docentes nas instituições”, afirmou Edward. Auxiliou na proposição do Estatuto vigente na Universidade, na criação do modelo de oferta de demandas e disciplinas na UFG integrando todo o sistema federal de educação. “Devemos ousar construir a utopia, criando um sistema federal de educação”, afirmou o ex-reitor. O professor finalizou seu discurso parafraseando Isaac Newton que disse: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes.” “Salvo nosso gigante professor Nelson Cardoso Amaral”, clamou o professor. 

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Professor Nelson Amaral durante a outorga do título

 

O professor Nelson Cardoso Amaral se mostrou honrado pela aprovação do Consuni: “A universidade é um trabalho coletivo e, por isso, eu divido essa homenagem com pessoas que passaram pelo meu percurso”. O amor pela universidade é claro em sua fala: “Universidade é lugar de dissenso e lidar com as divergências nem sempre é fácil. Mas esse é um dos pontos mais bonitos da universidade. Talvez uma das coisas mais bonitas criadas pelo ser humano”. O professor relembrou os imensos desafios passados na gestão da universidade em diversos governos. Contou sobre sua transição das ciências exatas para as humanas: “Uma transição muito difícil.  Na verdade, a primeira formação nunca sai de nós”, ressalta o professor.   

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Professor Orlando Amaral fez a homenagem ao professor Basílio Baseia

 

O professor Orlando Amaral fez o discurso de homenagem ao professor Basílio Baseia. Começou lendo um trecho do livro autobiográfico do professor: “O sapateiro que foi além das chinelas”. Que lembra a trajetória do professor que veio de família humilde, soube vencer as dificuldades e tornou-se grande referência no Instituto de Física e também em outras universidades. O professor Orlando Amaral explicou que a rede de contatos do professor foi de extrema importância para o desenvolvimento do Instituto. “O professor Basílio foi além das chinelas, avançou em sua área e sempre teve cuidado na forma de transmitir seu conhecimento”, afirmou o professor. 

Orlando ainda ressaltou o que tem em comum os dois homenageados: “a inteligência, o amor à universidade. Ambos filhos de sapateiros. E os dois serviram de inspiração aos estudantes que tiveram o privilégio de conviver com eles”. 

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Dionísio Baseia recebeu o título em nome de seu irmão

 

Dionísio Baseia discursou em nome do irmão. Ele, antes de ler o discurso do professor, ressaltou como sempre foi muito bem tratado na universidade e que, acredita que um pouco isso se deve ao seu irmão, um pouco pelas pessoas que aqui estão: “Vocês estão na prateleira superior dos seres humanos”, afirmou. Relembrou as dificuldades que tiveram sempre na vida: “A trajetória de vida de meu irmão teve vários espinhos e como o irmão mais velho, foi pra mim um segundo pai. E por isso, meu caminho sempre esteve asfaltado”, afirmou. 

No discurso enviado pelo professor Basílio Baseia lembrou as diversas parcerias que teve nos tempos da UFG publicando artigos com colegas desta e de outras instituições. Lembrou das dificuldades que teve como sempre estudar trabalhando, oito anos como sapateiro, estudando a noite, depois trabalhando em bancos. “Sempre tive inveja dos colegas que eram estudantes profissionais”. Ele ressaltou que sempre teve orgulho de pertencer a essa instituição, passando nela anos felizes de sua vida. 

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Outorga do título ao professor Basílio Baseia por meio de seu representante Basílio Baseia

 

A Diretora da Faculdade de Educação, Lueli Nogueira, ressaltou que a Faculdade de Educação só tem três professores eméritos e lembrou uma fala do professor Edward que disse que eles são muito criteriosos em escolher suas homenagens. Ela lembrou de como o professor Nelson sempre foi muito questionador em seu trabalho.  “Você é uma pessoa da educação, você é um educador em toda a expressão da palavra e a sua luta pelo serviço público nos ajudou e muito no campo da educação. Ele é conhecido como Nelsão, e  não é só pelo tamanho, mas pela grandeza”, falou a professora.

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Lueli Nogueira homenageou o professor Nelson Amaral

 

Ela fez uma analogia ao livro “O Homem que calculava” de  Malba Tahan: “Ele é o homem que calcula, um dos maiores defensores do financiamento público e da educação pública do país. Destaco a forma didática, clara e sem perder o rigor e precisão dos números, com que ele consegue se comunicar. Ele consegue falar de números, dados quantitativos, indicadores de qualidade com tamanha clareza e inteligibilidade, de forma acessível. Muitos da educação tem dificuldade com números. Ele trouxe para o terreno da educação um assunto árido, complexo e muitas vezes incompreensível e tornou esse assunto palatável a todos”. Ela lembrou que ele tem formado gerações de estudiosos no campo da educação e contribuído para que cada vez mais pessoas se interessem e estudem essa temática: “Nessa mistura de áreas, na interdisciplinaridade, nessa amálgama de saberes, Nelson trouxe contribuições significativas ao campo da educação e tem coragem suficiente para enfrentá-las seja qual for o governo”. 

O Diretor do Instituto de Física, Lauro Maia. também homenageou os professores que atuaram de forma incansável no Instituto de Física, mas também em vários setores da universidade. Destacou o papel do professor na implantação do Reuni. Contou sobre como os feitos do professor sempre ressoaram no Instituto, mesmo ele tendo convivido pouco com eles. Ele ressaltou que o professor Basílio Baseia contribuiu em especial para as pesquisas científicas de fronteira e de repercussão internacional e também para a criação do Doutorado em Física, programa de pós consolidado e classificado com nota 6 na Capes. Ele afirmou que: “A universidade e o IF são o que são hoje porque professores como os dois homenageados fizeram muito pela instituição”. 

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A reitora Angelita Pereira de Lima encerrou os discursos da noite

 

A professora Angelita Pereira de Lima ao encerrar os discursos lembrou que conceder um título de professor emérito é criterioso e, é preciso ser. Ela ressaltou as formas como os professores foram nomeados nos discursos: O sapateiro que foi além das chinelas e o homem que calcula. “Nós costumamos desprezar o sentido das palavras. Professor emérito, por exemplo: é o mérito, o reconhecimento da trajetória e os feitos de quem fez e faz a diferença na instituição. Essas pessoas que já carregam o título de professor emérito são as nossas referências, pela diferença que fazem na vida da instituição e na vida das pessoas e no impacto na sociedade”. 

Ela ressaltou que, nesse momento em que é feita entrega do diploma para esses dois professores, a UFG se torna guardiã deste legado. Ao homenageá-los se compromete com essas trajetórias. “Não é um ato simples. É importante que nós façamos isso com muito zelo, demarcando as diferenças nas nossas vidas. Cerimônias como essa tem um papel de agregar valor e impacto ao fazer acadêmico, criando marcas para o futuro. Não podemos aceitar menos do que está estabelecido hoje como marcos. E isso faz nossa responsabilidade muito maior”, afirmou a Reitora. Ela lembra também que muito tempo foi roubado da vida pessoal, então é importante agradecer às famílias por terem sido parceiras nessa jornada. 

Trajetória

Nelson Cardoso Amaral graduou-se em Física na UFG e começou sua carreira em 1976 no Departamento de Física do Instituto de Matemática e Física. O professor, juntamente com o ex-reitor Orlando Afonso Valle do Amaral, propôs a criação da Semana da Física, encontro acadêmico que vem sendo realizado ininterruptamente e que influenciou o surgimento de vários eventos semelhantes em outras unidades da UFG e em outras instituições de ensino. O professor realizou seu doutorado em Educação, foi diretor do IME, foi pró-reitor de Administração e Finanças, vice-reitor da UFG e mesmo após sua aposentadoria em 2009, continuou contribuindo como assessor da reitoria. Como consta no documento que deu origem ao título “Com sua qualificada visão de universidade, sua liderança, sua capacidade de trabalho, sua incansável luta pela educação pública de qualidade, participou intensamente das discussões para elaboração e implantação de grandes projetos na UFG, com destaque para o projeto REUNI e para o Estatuto da UFG”. 

Basílio Baseia se graduou em Física (bacharelado) na Universidade de São Paulo em 1964. Foi professor na  Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Doutor pela Universidade de São Paulo, foi professor-visitante na USP-São Carlos,  na USP- São Paulo e por fim Prof. Visitante no Instituto de Física (IF) da Universidade Federal de Goiás. Em 1998, ingressou como Professor Titular concursado. Foi Coordenador do programa de Pós-Graduação em Física, responsável pela apresentação do projeto de doutorado em Física ao Conselho Diretor do Instituto de Física, tendo sido aprovado pelo Conselho Universitário da UFG no final de 2007.  No documento que dá origem à homenagem está em destaque “Sua capacidade de trabalho e ampla experiência acadêmica tiveram importante papel na consolidação do programa de pós-graduação do Instituto de Física. Atualmente, mesmo após sua aposentadoria, continua contribuindo com o Instituto de Física na condição de Professor Voluntário do programa de pós-graduação. Tem experiência na área de Óptica Quântica”.

Inaugurações

Durante a solenidade também foi reinaugurado o Laboratório Multiusuário de Ressonância de Spin-Eletrônico que recebeu o nome do professor emérito Fernando Pelegrini. O laboratório que existe desde 1989, foi agora reestruturado. Também foi inaugurada as fotos dos professores eméritos na galeria de fotos do Instituto de Física.

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Inauguração dos retratos na galeria de professores eméritos

 

Confira as fotos aqui

Assista aqui a transmissão do evento no Youtube da UFG Oficial

Fonte: Secom UFG

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