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Professor da UFG integra equipe que desenvolveu a Calixcoca

On 10/27/23 15:59 .

Pesquisa sobre vacina contra dependência de cocaína venceu o "Prêmio Euro"

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Crédito: divulgação

 

O professor do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ-UFG), Felipe Terra, que também ocupa o cargo de pró-reitor de Pós-Graduação, faz parte de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que tem como objeto o desenvolvimento da vacina Calixcoca. O medicamento, ainda em fase de testes, induz o sistema imunológico a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Dessa forma, a molécula fica maior e não consegue chegar ao sistema nervoso central, onde a molécula sozinha de cocaína poderia desencadear uma série de reações que estimulam a dependência. A iniciativa foi destaque da segunda edição do "Prêmio Euro Inovação na Saúde" e a equipe conquistou a premiação de 500 mil euros (cerca de R$ 2,6 milhões). 

Felipe explica que a sua atuação na pesquisa tem se concentrado na área da Cristalografia, especificamente na determinação da estrutura de derivados da cocaína e buscando sempre chegar na estrutura em nível atômico da vacina propriamente dita, que é o calixareno ligado à cocaína, que ainda continua em fase de estudos. Cristalografia é uma técnica experimental que não se relaciona apenas com o estudo externo habitual dos cristais. Ela consegue identificar, em nível atômico, quais são os átomos que compõem essas moléculas que estão arranjadas no estado sólido. 

Calixareno é uma categoria de moléculas policíclicas formadas por unidades fenólicas ligadas/condensadas com a possibilidade de ligação de outras moléculas. O desenho molecular de um calixareno se assemelha a uma coroa. Em cima e embaixo dessa coroa, é possível penduricar, ou seja, fixar, ligar quimicamente, covalentemente, outras moléculas que vão determinar a funcionalidade da nova configuração molecular. As imagens abaixo mostram os antígenos propostos V4N2 e V8N2, baseados em calixarenos e descritos em artigo publicado na revista científica Journal of Advanced Research.


CALIXCOCA

CALIXCOCA 2

O professor Felipe conta que a ideia da Calixcoca sempre foi ligar, nessa coroa superior, moléculas à base de cocaína (cocaína modificada ou então moléculas derivadas da cocaína). Ao ligá-la a essa molécula base, que é o calixareno, é gerada uma macromolécula maior que, ao ser injetada no organismo humano, funcionaria como um epítopo, ou seja, um estimulador do sistema imunológico, que passa a reconhecer a molécula nessa configuração, já que a cocaína sozinha é pequena demais para isso. "Então, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos específicos que se encaixam, no modelo chave-fechadura, a essa macromolécula que, por ter o desenho molecular da cocaína na superfície da coroa superior, terá a forma molecular da cocaína e poderá se ligar à cocaína livre presente no sangue do indivíduo que fez uso da droga. Dessa forma, não haverá cocaína livre na corrente sanguínea para se ligar aos receptores que poderiam desencadear a dependência química da cocaína e todos seus efeitos deletérios", ressaltou. 

Recentemente, a UFG recebeu amostras de calixcoca para poder identificar a estrutura da vacina em nível atômico. "Embora ainda não tenhamos conseguido determinar a estrutura cristalina da vacina, já pudemos determinar a estrutura de derivados da cocaína que eram produzidos na rota sintética da calixcoca. Embora a identificação e a caracterização da vacina tenha sido feita por outras técnicas, como a Espectrometria de massas, e não pela cristalografia, os nossos avanços foram importantes para definir as estratégias de síntese e alcançar a vacina", afirmou Felipe.

Procad

A parceria com a UFMG começou em 2013 por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que reuniu quatro instituições - Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Alagoas (Ufal), UFG e UFMG - num projeto do professor do Departamento de Química da federal de Minas, Ângelo de Fátima, que representa os estudos químicos da Calixcoca.

Em 2015, os professores Ângelo e Felipe propuseram à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), num edital corrente, uma bolsa de pós-doutorado para que o professor do IQ pudesse trabalhar especificamente com a caraterização estrutural dos calixarenos diversos que eram sintetizados e produzidos no Laboratório coordenado pelo professor Ângelo. "Isso mostra a importância de projetos interinstitucionais com recursos públicos federais, como foi esse Procad", finaliza Felipe.

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