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Evento discute cenário atual do ensino de música no Centro-Oeste

On 26/10/18 14:46 .

“Não estamos vivendo hoje só uma crise econômica, mas ética, estética, uma crise humana”, afirmou professor do IFG

Texto: Aline Borges

Fotos: Adriano Justiniano

 

A manhã desta sexta-feira (26/10) começou repleta de arte e encanto no auditório da Biblioteca Central da Universidade Federal de Goiás (UFG) com uma apresentação do Grupo Revoada, formado por alunos do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae). Parte da programação do XV Encontro Regional Centro-Oeste da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), que acontece entre os dias 25 e 27 de outubro, os pequenos mostraram para o público um espetáculo com direito a música, dança e teatro. Logo após, pesquisadores, professores e alunos reuniram-se em uma mesa-redonda para discutir a “educação musical em tempos de crise: diferentes campos, diferentes percepções”.

O Encontro mobiliza a comunidade para refletir saídas para a educação musical no Brasil, bem como fazer uma análise do contexto atual do ensino e pesquisa na área a fim de possibilitar à ABEM ampliar suas formas de atuação, fortalecendo ainda mais as políticas e ações que vem desenvolvendo junto aos diversos contextos e níveis de ensino no Brasil.

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Estudantes do Cepae prestigiaram atentos os colegas no palco

Música Brasileira, presente!

Quando as crianças do Cepae começaram a entrar no auditório a calmaria cedeu lugar aos pequenos que estavam ansiosos para ver seus colegas se apresentarem no palco para um auditório lotado. Eles conversavam, riam e não paravam nas cadeiras acenando para os amigos artistas. Entretanto, era momento de parar para que o espetáculo do Grupo Revoada pudesse começar. Foi nesse momento que a professora de música do Cepae, Telma de Oliveira, revelou o verdadeiro impacto da música nos pequenos. Sem gritar para pedir silêncio, ela começou a entoar uma melodia calma: Revoada, revoada está na hora de chamar o silência para cantar…. não precisou repetir mais do que duas vezes, a atenção dos pequenos já era dela.

Assim, a apresentação começou. O texto, escrito pela própria professora, levou o público em uma viagem pela história da Música Popular Brasileira (MPB). Intitulado “Música Brasileira, Presente!”, ou apenas MBP, a peça contava com cantigas folclóricas, lendas, canções populares que marcaram época e deram ritmo e compasso à história brasileira. Afinal, como afirmou Ana, uma das personagens do espetáculo: “artista não se ausenta na gente, fica vivo nas músicas e lembranças”.

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Pedro e Ana, protagonistas do "MBP"

Telma conta que o Grupo Revoada “é um projeto de extensão que objetiva trazer experiências nas três linguagens artísticas para as crianças: a dança, a música e o teatro”. Ele foi criado por volta dos anos 2000 e, hoje, atende 40 estudantes tanto do Cepae quanto de outras instituições de ensino básico. A professora afirma ainda que muitos dos alunos que passam pelo Revoada acabam entrando em escolas de arte por todo país. “Eles experimentam um pouco aqui de forma pedagógica porque ele é um projeto escolar. Nós não temos a intenção de ser performáticos, de formar grandes artistas, mas sim despertar os alunos para outras possibilidades de expressão”, explica Telma, que finaliza dizendo que, mesmo os que não seguem a carreira artística, saem do projeto como espectadores capazes de reconhecer a arte e valorizar a cultura.

 

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Coordenadora do Grupo Revoada, Telma acredita no impacto da educação musical no ensino básico

Tempos de crise

Depois da apresentação, o tom ficou mais grave e sério. Seria o momento de discussão e reflexão acerca da educação musical em tempos de crise. Foram convidados para compor a mesa a doutora e mestre em Educação Musical pelo Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Francine Kemmer, o doutorando em Ciências da Educação pela Universidade de Santiago de Compostela, Éliton Perpétuo, e o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Manoel Câmara.

Francine começou sua fala ressaltando a responsabilidade que é trazer perspectivas em um cenário como este. “Muitas vezes, criticamos o que ocorre nas escolas, mas não nos articulamos de uma maneira colaborativa”, afirmou a pesquisadora, que defendeu as práticas musicais como modos de colaboração humana e uma forma de aprendizagem colaborativa onde o protagonismo, o centro de todo processo, é do aluno e não do professor. Ela finaliza dizendo que “são nos momentos de crise que nos unimos para alcançarmos eco às nossas vozes”.

Essa união é necessária visto que o ensino de música no Brasil passa por dificuldades de legitimidade dentro das escolas. Manoel afirmou que é um “momento de fechamento de portas e desestímulo ao professor”. Ele comentou ainda que tem alunos que saem das universidades, passam nos concursos públicos, mas ao chegarem nas instituições de ensino não conseguem atuar porque as próprias diretorias optam por não ensinar música, geralmente optando pela disciplina de arte.

Mas essa perspectiva não deve ser colocada em proporções de derrota, afinal, aqueles que acreditam no potencial da música na formação de seres humanos sensíveis, que desfrutem e entendem sua subjetividade ainda ‘insistem em achar fôlego para enfrentar esse tipo de situação”. E o caminho ainda é distante, mas possível de ser trilhado. Como afirmou Francine “é o momento de traçar caminhos para desaprender e reaprender a ensinar”.

Ela completa ainda dizendo que faz-se necessário agora a “abrir espaços para a discussão, construção e formação de um espírito crítico entre professores e alunos”. Num contexto onde as escolas não legitimam o ensino musical, é a hora de não apenas “falar como a gente quer fazer música, mas também é necessário ouvir e entender o que a própria escola pensa da educação musical” finaliza a pesquisadora.

Todo esse processo já evolui muito, sobretudo se comparado à realidade antiga do país. Em, sua pesquisa, Éliton mostra que, hoje, no Brasil, existem 300 teses sobre educação musical produzidas nos 150 cursos de licenciatura, 100 bacharelados, 10 doutorados e 20 mestrados formados no país. A expectativa é que o número desses trabalhos acadêmicos na área dobrem de quantidade nos próximos anos, o que é totalmente possível visto que, nos anos 90, haviam apenas dez teses discutindo o tema.

Sendo assim, o pesquisador coloca a necessidade de se “pensar uma educação musical que valoriza a subjetividade, sensibilidade e interdisciplinaridade” e defende a ideia de criar grupos interligados de pesquisa para que todo o Brasil consiga pensar junto a questão, compreender a individualidade de cada região, mas também criar uma rede forte de colaboração e resultados práticos que realmente condizem com a realidade.

Quelle: Secom UFG

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