Goiânia tem uma “nova periferia”, diz pesquisa da UFG
Impulsionado por políticas públicas habitacionais da última década, setor imobiliário faz metrópole se expandir pelas bordas e não resolve déficits de moradia
Texto: Patrícia da Veiga
Fotos: Carlos Siqueira
Um estudo desenvolvido no Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) investigou o crescimento da Grande Goiânia entre 2005 e 2016, constatando uma expansão vertiginosa “pelas franjas” da metrópole. Segundo a pesquisa, o que impulsionou essa realidade foi a implantação de políticas públicas federais e estaduais como Crédito Solidário, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Minha Casa Minha Vida (MCMV) e Cheque Moradia. Apesar disso, o problema da moradia não foi sanado e as ocupações espontâneas seguem surgindo em bairros da Região Metropolitana de Goiânia (RMG).
“Estes programas construíram 101 mil unidades habitacionais entre os 20 municípios da RMG, significando um volume de recursos de R$ 7,4 bilhões em investimentos. Conforme dados da Prefeitura de Goiânia, somente na década de 2000 foram construídos 205 novos bairros na capital e no entorno. Esse foi o maior registro da história”, afirma Elcileni de Melo Borges, gestora governamental e autora do trabalho. Sua investigação é resultado do doutorado que cursou no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo), sob orientação da professora Celene Barreira, diretora do IESA, e co-orientação do professor Aristides Moysés, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
De acordo com Elcileni Borges, por meio de um pesado aporte de recursos de fundos estatais (como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS), especialmente a partir do lançamento do MCMV, o segmento econômico de imóveis se voltou para a construção massiva de residências destinadas a consumidores com renda de até seis salários mínimos. Essa realidade fez a metrópole se espraiar, intensificou a conurbação entre municípios vizinhos à capital – como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade – e produziu o fenômeno da “periferização da verticalização”.
Desse modo, o que se viu em setores como Oeste e Bueno nos anos 1980 e 1990, com a explosão de edifícios planejados para as classes média e alta, e o que ainda se nota ao redor de parques urbanos, com a “verticalização de alto padrão”, foi perceptível também nos bairros populares, nas zonas limítrofes e até mesmo em áreas rurais da metrópole. “Se viu aflorar uma nova periferia e novos padrões de segregação residencial e socioespacial na Grande Goiânia”, constata a pesquisadora.
Consequências
O trabalho de campo realizado por Elcileni Borges consistiu em percorrer 20 empreendimentos situados em sete municípios da RMG (Goiânia, Aparecida de Goiânia, Trindade, Senador Canedo, Goianira, Guapó e Nerópolis). Ao realizar visitas técnicas a moradias, a pesquisadora buscou captar, entre outros fatores, o grau de satisfação dos habitantes dos novos bairros. “Muita gente reclamou de se sentir isolada e não ter serviços por perto: escola, supermercado, postos de saúde, pontos de ônibus etc.”, pontua.
Na tese Habitação e Metrópole: transformações recentes na dinâmica urbana de Goiânia, Elcileni Borges revela consequências como a fragmentação do território e o surgimento de novas “manchas urbanas” (espaços vazios em meio a áreas recém-ocupadas). A predominância da construção de moradias populares em áreas isoladas e segregadas, a carência de equipamentos urbanos nos novos bairros e o difícil acesso aos centros econômico e cívico também são apontados como resultados para o fenômeno da “verticalização” das periferias.
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